Psico-oncologia: O Suporte Essencial no Enfrentamento do Câncer
O diagnóstico de câncer representa um momento de profunda transformação na vida de um indivíduo, impactando não apenas o corpo físico, mas também a saúde mental e emocional.
Autor:
Marina Pires Alves M. Sfreddo
Data
26 de jun. de 2025
Introdução
O diagnóstico de câncer representa um momento de profunda transformação na vida de um indivíduo, impactando não apenas o corpo físico, mas também a saúde mental e emocional. A jornada do paciente oncológico é permeada por desafios que vão desde o choque inicial do diagnóstico, passando pela intensidade dos tratamentos, até as incertezas do prognóstico e a readaptação à vida pós-tratamento.
Nesse contexto, a psico-oncologia emerge como uma área fundamental, atuando na interface entre a psicologia e a oncologia para oferecer suporte integral a pacientes e seus familiares.
O Campo da Psico-oncologia
A psico-oncologia é um campo interdisciplinar que se dedica ao estudo da influência de fatores psicológicos no desenvolvimento, tratamento e reabilitação de pacientes com câncer. Seu principal objetivo é identificar variáveis psicossociais e contextos ambientais nos quais a intervenção psicológica pode auxiliar no processo de enfrentamento da doença, incluindo situações estressantes às quais pacientes e familiares são submetidos.
Historicamente, a relação entre fatores psicológicos e o desenvolvimento de doenças tem sido observada há milênios, mas estudos sistemáticos sobre a conexão entre variáveis psicológicas e o câncer só foram delineados a partir da década de 1940. Pesquisas mais recentes demonstram que a resposta psicológica do paciente ao câncer é uma variável significativa nos resultados do tratamento, podendo até mesmo influenciar a duração da sobrevida.
Segundo Costa Jr. (2001), a psico-oncologia tem se consolidado como uma ferramenta indispensável para promover a qualidade de vida do paciente oncológico, facilitando o manejo de eventos estressantes relacionados ao tratamento, como longos períodos de terapia, efeitos colaterais de medicamentos agressivos, procedimentos invasivos e dolorosos, e alterações comportamentais como desmotivação e depressão.
Bueno e Borges (2009) complementam afirmando que:
"A atuação do psicólogo em oncologia não deve restringir-se ao suporte emocional, mas incluir ações voltadas à promoção da autonomia do paciente, à adaptação à doença e ao enfrentamento dos múltiplos desafios impostos pelo câncer, como as perdas, os tratamentos invasivos e as mudanças no estilo de vida." (p. 22)
A Importância da Intervenção Profissional
A intervenção em psico-oncologia não se baseia apenas em modelos educacionais, mas também em abordagens clínicas que enfatizam estruturas patológicas e atendimentos terapêuticos individualizados. O profissional deve priorizar a promoção de mudanças de comportamento relacionadas à saúde do indivíduo.
A experiência de tratamento deve se constituir em uma condição de aprendizagem sócio-comportamental e cognitiva para o paciente, e o psicólogo deve demonstrar que seus repertórios de comportamentos adquiridos no contexto do tratamento podem ser úteis em diversas situações de risco.
No Brasil, a atuação do psicólogo em psico-oncologia ainda enfrenta desafios, como a concentração de profissionais e pesquisadores em algumas regiões e a necessidade de ampliar o espectro de atuação para abranger subespecialidades do câncer. É fundamental que a formação em psicologia ofereça disciplinas específicas em psico-oncologia e que haja um estímulo à inserção profissional de psicólogos em instituições de saúde.
Reconhecimento e Valorização Profissional
Para que a psico-oncologia atinja todo o seu potencial, é imprescindível que haja o reconhecimento e a valorização da atuação do psicólogo por parte de toda a equipe de saúde, bem como pelos próprios pacientes e seus familiares.
O psicólogo não apenas contribui com intervenções que auxiliam na adaptação emocional à doença, mas também desempenha um papel essencial na comunicação entre profissionais, na promoção da adesão ao tratamento e na redução do sofrimento psíquico.
Quando a atuação psicológica é devidamente compreendida e integrada às condutas clínicas, observa-se um impacto positivo tanto nos desfechos terapêuticos quanto na humanização do cuidado. Essa valorização deve se refletir em políticas institucionais que assegurem a presença contínua e ativa de psicólogos nos serviços oncológicos, reforçando o cuidado integral e centrado no paciente.
A psico-oncologia desempenha um papel crucial no cuidado integral ao paciente com câncer, oferecendo suporte psicológico que complementa o tratamento médico. A pesquisa contínua e a formação de profissionais qualificados são essenciais para o avanço da área, garantindo que pacientes e familiares recebam o apoio necessário para enfrentar os desafios impostos pela doença.
A integração da psicologia no contexto oncológico não é apenas benéfica, mas indispensável para a promoção da qualidade de vida e bem-estar dos indivíduos afetados pelo câncer.
Referências Bibliográficas
Costa Jr., A. L. (2001). O desenvolvimento da psico-oncologia: implicações para a pesquisa e intervenção profissional em saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, 21(2), 107-118. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/twqgtsgXT34KDyFSkb8dcPB/
Bueno, J. R. G., & Borges, L. F. (Orgs.) (2009). Psico-oncologia: Intervenções clínicas e hospitalares. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Outros artigos que pode te interessar.
Aqui, compartilhamos histórias inspiradoras, dicas práticas e novidades do mundo da saúde que fazem a diferença no seu dia a dia